Com um sistema de 33 partidos legalizados como o do Brasil, muitas pessoas que querem se candidatar nas eleições de 2020 ficam na dúvida: como se filiar a um partido político que não vai me atrapalhar?
Primeiro é preciso lembrar que todo o candidato deve estar filiado ao partido onde pretende concorrer nas eleições até seis meses antes do pleito. Como o primeiro turno das eleições de 2020 está previsto para o início de outubro, o candidato deve estar filiado até o início de abril do próximo ano.
Depois disso, o candidato ainda deverá ter seu nome aprovado na convenção do partido, prevista para julho de 2020 e ter o registro de candidatura deferido pela Justiça Eleitoral para se tornar candidato.
Ou seja, ainda há tempo para pensar e escolher o partido certo, mas mais tempo ainda para, com a escolha do partido errado, ter a candidatura transformada em um verdadeiro inferno.
Escolher o partido errado pode não só prejudicar o candidato de ter sua candidatura boicotada pela convenção partidária ou falta de apoio dentro da estrutura institucional, mas também na sua comunicação e marketing político.
Como se filiar a um partido político? Fim das coligações
As eleições de 2020 serão marcadas pelo fim das coligações proporcionais. Ou seja, diferente de outras eleições onde partidos diferentes se juntavam em uma chapa de candidatos ao Legislativo e somavam os votos de todos os candidatos de todos os partidos coligados para definir o número de cadeiras, agora, cada partido ficará sozinho.
Todos os partidos terão chapa única ao Legislativo e serão somados somente os votos do partido para definir o número de cadeiras. Ou seja, para fazer cadeiras, o partido terá de ter uma chapa forte, com candidatos fortes, que façam votos suficientes.
A tendência é que os grandes partidos com mais recursos financeiros para atrair bons candidatos e/ou os mais ideológicos possam fazer mais votos e assim, mais cadeiras nas Câmaras Municipais.
Não adiantará mais o partido ter um candidato forte e outra dezena de fracos, sem votos, e se unir a outro para garantir cadeira.
Por isso, é muito importante para o candidato escolher um partido que tenha uma chapa forte de candidatos, capaz de somar muitos votos e fazer mais cadeiras. Mas cuidado! Mesmo com uma chapa forte, o candidato precisa estar entre os mais votados do partido ou só ajudará os campeões de voto a garantirem suas cadeiras.
Como se filiar a um partido político? Os tradicionais estão “queimados”
Partidos tradicionais, apesar de terem mais recursos, mas acesso ao fundo partidário e a capacidade de montar chapas mais fortes para criarem mais cadeiras, também podem prejudicar a campanha do candidato.
Desde 2014, com a operação Lava-Jato, os grandes partidos do Brasil se tornaram sinônimo de corrupção. PT, MDB, PP, PL e PSDB foram os mais impactados pelas investigações e tem suas imagens arranhadas.
Optar por um desses partidos pode significar ter de responder por heranças que não são do candidato.
Partidos mais jovens ou que estiveram fora do cenário eleitoral das últimas décadas podem ser escolhas menos pesadas, como Novo, PSOL, Cidadania 23, Podemos ou PSB. O PSL do presidente Jair Bolsonaro, por enquanto, ainda cresce em preferência nacional – resta ver se a boa imagem perdura até 2020.
Não esqueça da ideologia do partido
Outro ponto muito importante para escolher o partido político a se filiar é a questão ideológica. Parece óbvio, mas a ideologia do partido e do candidato deve pesar e muito na escolha.
Com exceção de partidos do chamado Centrão, que em sua maioria, são de centro-direita ou centro-centro, todos os outros contam com, ao menos, uma base de ideias em seus estatutos e diretrizes.
Escolher um partido sem estudar bem as bases dele pode causar problemas enormes para candidatos. Apesar da grande maioria dos brasileiros não ter um partido de suas preferências, a maioria deles tem uma imagem e reputação construída, do ponto de vista ideológico, com o público.
E isso, automaticamente, rebate no candidato filiado. Um grande exemplo foi o candidato derrotado ao governo de São Paulo, Márcio França (PSB), que apesar de sempre ter sido de centro, tendo sido aliado do PSDB e do PT, foi colocado como “esquerdista” e “comunista” por João Doria, seu adversário.
Depois da derrota e as acusações que acabaram colando com o eleitorado conservador paulista, França exigiu a saída do PSB do Foro de São Paulo para não sofrer o mesmo nas eleições de 2020, quando será candidato a prefeito de São Paulo.
Em resumo, por mais que o candidato não tenha as mesmas bases de seu partido, elas serão coladas ao político. Por isso, é importante conhecer bandeiras, posicionamentos e as bases ideológicas do partido para escolher um que seja o mais próximo de você.
Pelo menos, caso o acusem de ser algo, você será mesmo aquilo. Agora, em um partido de ideologia diferente, você pode ganhar a imagem e reputação daquilo que nem é.